12/02/08

B.º S. Paulo - Luanda




                                No B.º S. Paulo morei
                                Na Rua Vereador Prazeres
                                Naquelas ruas brinquei
                                Vi rostos de muitos sofreres

                                Fazíamos corridas aos centos
                                Junto às bombas de gasolina
                                De trotineta ou carros de rolamentos
                                Muitos éramos há partida

                                Jogávamos à bola ali perto
                                Em frente à Casa Lisboa
                                Num terreno deserto
                                Havia pancadaria da boa

                                No velho Cinema Colonial
                                Da geral ou plateia tanto faz
                                Dizia-se em barulheira infernal
                                “Artista... olha na tua atrás”

                                Bar Cravo, Magestic ou Mariazinha
                                Rua do Ambaca, Benguela, Lobito
                                Fazem parte como se adivinha
                                Do tempo em que dizia: «Em Luanda... fico!».

                                Mas a vida deu uns safanões
                                E um novo sopro saiu do auro
                                Agora só restam as recordações
                                Do meu lindo Bairro... S. Paulo!

Aiuê Angolê!

P.S. - Vou aqui colocar o poema da minha amiga Laura do blog    "Réstias de Sol".

  Esta minha amiga Laura, minha vizinha em Luanda, ficou surda aos 6 anos. A professora achava que era tempo perdido ensinar uma surda a saber ler e escrever. Mas a Laura nunca esmoreceu, soube dar a volta por cima e hoje escreve e sente como ninguém a voz do silêncio... do seu silêncio! Um dia sabendo o que quanto ela tinha para nos dar "ofereci-lhe" um blogue, o "Réstias..." e, assim, é ver a minha amiga Laura colocar lá todos os seus sentimentos em forma de prosa ou poemas.

  Nelas retrata a sua vivência e o seu amor por um Bairro (o nosso B.º S. Paulo), e acima de tudo por uma cidade que foi o grande amor da sua vida... Luanda.

  Neste poema a Laura lembra aquela idílica Ilha que faz parte do imaginário de cada um de vós e que nós, em Luanda, bem a conhecíamos quando o barco "Kapossoca" atracava no cais e éramos recebidos com colares de missangas,... a Ilha do Mussulo.


O Poema

Quero ser de novo a garota feliz, lá do bairro,
Quero sair por aí, passear na minha ilha,
Conversar com meus amigos
Correr com eles pela praia.

Jogar ao ringue, dar ao arco, mergulhar lá no charco
Que tinha na minha ilha, quando a maré vazava
E não havia maralha que resistisse a saltar,
A berrar pelas alforrecas que dançavam ao nosso redor
E nos faziam correr, chorar e gritar de dor.

Quero ir para a minha ilha
Encontrar um pescador vê-lo a deitar as redes,
E ir com ele pelo mar na canoa a flutuar
Ter a qualquer lugar, que lá na nossa ilha
Era tudo ao pé da mão, podíamos apanhar
Mamões, bananas e papaias lá nas praias,
As mangas eram um nunca mais acabar
Era saltar dentro da água e comer até fartar,
Para as mãos não ser preciso ir lá fora lavar.

Quero ir à minha ilha, sentar ali ao pé dela
Falar da minha vida e o que tem sido
O meu regressar a outra terra, a outro mar
Dizer-lhe bem no ouvido, que, mesmo de longe
A continuo a amar!...

4 comentários:

renato gomes pereira disse...

morei um pouco mais pra baixo da foto ...No fim da av combatentes, mais propriamente na Rua Senado da Câmara ao bairro marçal..

Meg disse...

Grata surpresa...
Eu morei sempre entre os Combatentes e a Paiva Couceiro, na rua Vasco Fernandes, fiz a primária do colégio S.Tomás de Aquino em S.Paulo... Depois S.José de Cluny...
Saudades de um tempo que não volta mais.
Obrigada, Marius!
Bem haja

Jorge Ribeiro disse...

Sempre no BºS. Paulo de 62 /71 ,Entre a Rua dos Pombeiros e Rua do Lobito ,o Edificio em frente á Pastelaria ,era local de "Farra"...........memórias!Obg.

LUIS PEREIRA disse...

ÂNIMO é a palavra que melhor define o sentimento de encontrar estas páginas/blog. Nasci e vivi até aos 14 anos no prédio do Bar Ginga em S. Paulo e é reconfortante ao fim de tantos anos encontrar descrições de sentimentos partilhados.
ESTAMOS JUNTOS