05/11/08

A "Falsa" Namorada



Foto muito antiga da Escola. No meu tempo já tinha gradeamento a toda a volta. Foi na rua que se vê do lado direito que aconteceu a história

  A Escola Industrial de Luanda foi um marco na minha vida. Não só porque estudei lá mas também por tudo o que significou para mim, pois foi devido a ela que consegui um bom emprego como desenhador na “Edal – Estofos de Angola”. Curiosamente uma profissão que nada tinha a ver com o Curso que estava a tirar que era de “Montador-Electricista”.

  Daquelas janelas vi nascer o “Cinema Império” (hoje “Atlântico”), e via um pouco dos filmes que lá corriam já que era um Cinema aberto lateralmente.


  Andei na Industrial no 1º ano do Ciclo Preparatório. Devido ao excesso de alunos, no ano seguinte transitamos para a Escola João Crisóstomo no “Macambira”.

  Da Rua Vereador Prazeres no B.º S. Paulo, onde morava, até à Escola ainda era uma caminhada e a pensar que tínhamos na altura 10/11 anos. Os jovens de hoje já não estão para andar tanto.

  Ia pela Rua Missão de S. Paulo, onde me encontrava com o meu amigo Luís, o “periquito”, filho do dono da “Sapataria S. João” e lá íamos em frente atravessando a Paiva Couceiro, ou pela Av. D. João II, pois tínhamos um amigo numa dessas ruas transversais e assim era mais um até à Escola.

  Quando não havia aulas, ia-se jogar aos “matraquilhos” na loja do Sr. Inácio que ficava por detrás da Escola ou jogava-se à bola nos campos que já lá havia.

  O Director Beirão era terrível, quando alguém se portava mal era certo e sabido que lá levávamos uma suspensão e um bofetão. Claro que o nosso Professor de "Religião e Moral" era uma vítima das nossas patifarias, mas curiosamente tive sempre boas notas a essa disciplina. Eu, como tantos outros, tivemos o “raspanete” do Director e dois dias de suspensão por algo que colocámos em cima da cadeira. Coitado do professor!

  Voltei dois anos mais tarde à Escola Industrial como trabalhador/estudante.

  Trabalhava na “União Comercial de Automóveis” no B.º da Boavista. Subia as “barrocas” ia a casa (já na Rua do Lobito) comer qualquer coisa, e lá ia para a Escola, como sempre a pé.

  Um dia, quase a chegar à Escola, sinto alguém agarrar o meu braço em desespero. Olho para o lado e vejo uma moça negra implorando: «Diga que sou a sua namorada». Do outro lado da estrada, um indivíduo mal-encarado dizia em voz alta: «Sua p... estás a agarrar-te ao branco para te protegeres, mas vais ver o que te faço!». Eu sem perceber patavina do que se estava a passar, ao olhar aflitivo da rapariga, defrontei o sujeito e disse-lhe: «Se tocas num cabelo da minha namorada estás feito é comigo».

  E continuei a caminhar com ela agarrada ao meu braço até à entrada principal da Escola.

  Antes de entrar, ela olhou-me e só disse: «Obrigada!»

  Seguiu calmamente o seu caminho. Fiquei a olhar até vê-la desaparecer por detrás do embondeiro que ficava defronte ao Liceu Feminino. Por uns instantes tive uma namorada que não conhecia de nenhum lado.


  Fiz na Escola o curso. Depois transitei para o Instituto Industrial que era todo feito de madeira. Não acabei pois preferi ir para a tropa e acabar o Instituto depois. Mas foi um sonho que se acabou com a Revolução de Abril, estava nessa altura em Cabinda, na floresta do Maiombe.

7 comentários:

Anónimo disse...

Ei meu amigo, acabo de ter conhecimento, que a escola que andas-te foi a mesma que meu irmão, e o mesmo curso, mais o que achei bonito foi a tua atitude com a namorada de minutos, e a tua prontidão de portegeres a garota. Só um bom garoto o faria, e o fez tu.És um audaz.

Lameking.

Anónimo disse...

Oi Marius!
Já há muito tempo que sigo teu blog,que considero fantástico na configuração,e nos temas, parabéns!Em resposta a uma pergunta tua, numa outra página, posso esclarecer o seguinte:O teu curso de Comandos, foi o 27, dando origem á 2044 e 2045, esta foi para Moçambique. Assim sendo tu és da 2044ªCmds. Quem o diz é um tipo(eu) da 2042ªCmds que iniciou o curso em Janeiro de 1973,e terminou a 17de Maio de 1973, sendo este o 26 curso!Esclarecido!...Alguma dúvida que possas ter, terei muito prazer em ajudar.Temos um sit da Companhia 2042comandos.com e eu o meu blogue pessoal "página de um comando" Amigo Márius, um grande abraço para ti.

Mário Lima disse...

Olá "anónimo" Comando

Já conhecia o vosso site pois enquanto não descobri em que Curso andei e a Compª formada desse curso "percorri" a net toda à procura de um indício, de algo que me levasse até o tempo em que fui para o CIC em Luanda. E foi a partir do vosso site e de tudo que lá li, que verifiquei que só podia ter sido do 27 curso já que o vosso (26) tinha acabado em Maio.

Não sei porque razão pensava que tinha sido da 33ª Companhia. Talvez porque os meus instrutores da altura tenham sido dessa companhia e eu ter feito confusão passado estes anos todos.

Felizmente encontrei malta que me prestaram todas as informações possíveis até eu chegar à conclusão de que a Companhia formada foi a 2044.

Mas há um companheiro a quem devo muito para chegar a essa conclusão foi o Armindo Ferreira da 33ª que desde a música "Let me Kiss" (a tal que corríamos ao som dela) até aos contactos tudo fez para me confirmar o Curso onde andei.

Estive a ver as fotos do vosso site. As imagens que lá estão são como se de novo tivesse lá volatdo e mais uma vez revi a prova de choque, a prova de fogo, a semana maluca, e ao som do "Let me Kisse" e do "Donne Moi ma Chance" envio para ti um Mama Sumé.


Neste meu site já lá está toda a história da minha passagem pelos Comandos.

http://voluntastuavictoriatua.blogspot.com/

Não fui Comando mas estive lá!

Tudo de bom.

Anónimo disse...

Olá Mariuz.
Com toda a certeza que te conheci, apesar de ligeiramente mais novo. Estudei a Crisóstomo e na Industrial. Ao ler este teu post, relembrei os bilhares. Que saudade. Mas olha, eu morei na Rua de s. Paulo junto ao bar Morgado. Passei o meu tempo na Rua de Benguela e na Rua do Lobito foi onde passei horas a jogar matraquilhos. Lembro-me de vários na Rua do Lobito e por uma ou outra fotografia nos teus blogs tenho uma vaga idéia. Na rua do Lobito, o Chop Chop, o julgo, Quim Van Dúnen, o Jorge filho do barbeiro da esquina com a rua de S. Paulo e o Ducha um puto meio atrasado mental.
Foi continuar a ler mas prometo que voltarei

Sérgio O. Sá disse...

Um pouco mais velho, eu, faz-me bem ler estes textos, estes comentários e recados entre quem não conheço.
Passei por Angola entre 1965 e 1968, como militar. Lá passei um mau bocado, comi do "pão que o diabo amassou", mas fiquei preso àquela terra. Não sei por quê. Felizmente que a minha missão(enfermeiro)era a de salvar, não de matar, e foi o que fiz.
Falam das vossas Companhias de Comandos. Eu fui parar a Quibala Norte, onde nos primeiros anos de 60 se realizaram dos primeiros cursos dessa tropa de elite.
Falam de bairros e de ruas de Luanda. Bairros que conheci, ruas que percorri, nomes que fixei.
Até a zona da Boavista aqui é citada.Tantas vezes lá estive. Tinha lá familiares. Assisti a música pop-rock na Texyang, olhei o mar das praias dessa zona, tomei o machimbombo vezes sem conta que daí me levava até à Baixa.
Parece que o que escrevo se contradiz. Mas acrescento que todas essas coisas agradáveis aconteceram porque, doente, dei baixa ao Hospital Militar, em 1966, e no final, já com alta, enquanto esperava por transporte para o mato, encontrei os meus tios, a residirem na Boavista. Foi a Rádio Ecclésia que radiodifundiu o meu desejo de os encontrar. Em 1967, ja na região de Maquela do Zombo, autorizaram-me a gozar licença, e voltei a casa deles, onde estive hospedado 30 dias.
Tempos que já lá vão, mas que a leitura dos vossos textos me trazem a lembrança de tantas coisas bonitas que deixam saudades.
Só uma à parte: Belo gesto, Márius, a bem da rapariga negra. Estou certo que ainda hoje ela se lembrará de si.
Obrigado por esta partilha.

Anónimo disse...

Aprendeu muito como eletricista na Escola de Luanda?
Eu quero mandar ao meu filho a alguma escola mas ainda não sei qual.

Mário Lima disse...

Sim Mariana.

Foi a melhor coisa que fiz. Não me serviu porque nunca fui eletricista, mas foi graças a esse curso que fui desenhador, já que na escola tínhamos desenho que fazia parte do curso.

Se não fosse desenhador seria eletricista pois tinha muita saída no mercado de trabalho.

Por esse motivo um curso profissional dá-nos mais valias em termos de saídas profissionais que esta de serem só doutores e engenheiros que não serve para nada e depois depois como são tantos e não há lugar para eles vão para 'caixas' dos supermercados.

Procure uma boa escola profissional e o seu filho terá futuro.