20/05/09

O Meu Amigo Luís!

Somos da geração do fazer o brinquedo com que brincávamos. A uma lata de sardinhas fazíamos quatro furos, dois paus, quatro caricas, um fio e lá puxávamos o nosso carro. Nas caricas colocávamos casca de laranja lá dentro, fazíamos um pista com giz e com os dedos fazendo mola, zás lá ia carica. Quem saísse fora do percurso começava no sítio onde estava anteriormente. Ganhava quem primeiro cortasse a meta.


Os carros de rolamentos, as trotinetes, as nossas camionetas de bordão, os nossos papagaios de papel tudo era construído por nós. E éramos felizes!



Ir para a escola não era o papá ou a mamã que nos levava de carro, íamos a pé e a escola ficava a km do local onde morávamos. Eu e o meu amigo Luís que, segundo a “lenda”, fui eu que o baptizei de «Periquito» e ainda hoje é conhecido por esse nome de "baptismo", filho do dono da Sapataria S. João. Partíamos da Rua Missão de S. Paulo em frente à Igreja de S. Paulo até aos Combatentes para irmos até à escola primária El-Rei D. Dinis. Depois Escola Industrial no 1º ano e Escola Preparatória João Crisóstomo no 2º ano em frente à Fábrica Imperial de Borracha no Macambira.

Fazíamos geralmente dois percursos para a João Crisóstomo, ou íamos pelo Musseque Marçal, Rua Senado da Câmara, e seguíamos sempre em frente, ou íamos pela Rua Garcia da Orta da Electro-Montadora, virávamos na Av. Brasil e depois Senado da Câmara em direcção à escola. Ao olhar para o mapa é que verifico o que andávamos nessa altura, eu tinha 12 e ele 11 anos.

Na João Crisóstomo fizemos a comunhão Pascal no terraço, com um sol impiedoso onde algumas crianças chegaram a desmaiar. Posteriormente colocaram um telhado nesse terraço.

Na Sapataria estudávamos ou íamos brincar até ao embondeiro que havia num terreno baldio. E éramos felizes!... Hoje as crianças já não sabem brincar assim!

Depois perdi-lhe o rasto. Passados 40 e tal anos por um mero acaso (tal como o meu amigo Flávio, bendita net), através de um amigo comum, o Abílio, voltei a "encontrá-lo". Sei que está bem e um dia voltarei a olhar o rosto deste meu amigo que, como eu, andamos todos estes anos à procura um do outro. Curiosamente ele nunca se esqueceu do meu nome completo. Eu já não posso dizer o mesmo, para mim era o «Periquito» e «Periquito» para sempre ficou!

8 comentários:

Zé ParrulaPiteira disse...

Amigo Marius
Afinal somos a geração com imaginação, não e que as fisgas eram feitas das camaras de ar da bicicletas, os carros das caixas de sardinha de madeira com rodas das charruas e para baixo era a boleia, para cima puxavamos por ele. Não e que faziamos brinquedos em arame , burros carros de mula etc , nao e que ir psra a escola com 7 anos iamos sozinhos , que tinhamos que nos levantar as 5 andar 2 km ate a estaçao caminho de ferro , e apanhar o comboio para Estremoz e andar mais 1,5 para chegar a Escola Comercial .
a tarde o mesmo fado , Assim era a nossa geração
Abraço
Ze Piteira

Anónimo disse...

Poizé !!! Mario(us70)
Grande surpresa que nem mereço!!!
Confesso que fiquei muito sensibilizado por teres dedicado um pouco do teu tempo e um espaço no teu “Blogue” para me dedicar umas palavrinhas e referir algumas das nossas vivências da infância em Luanda, que me reconfortaram bastante e me encheram de alegria. Intrepretei este teu gesto como um reconhecimento que, afinal, tal como a mim, também para ti foi marcante e agradável este nosso “reencontro” ao fim de tantos anos, sinal de que a amizade da infancia perdura no tempo.

Foi bom teres recordado aqueles percursos que fazíamos para ir para a Escola Industrial. Recordo também, e aqui te vou lembrar, que, até fazíamos um jogo com os últimos números das matrículas dos carros. Cada um escolhia um número e ao passar um carro com aquele número, lá tinha o desgraçado e azarado, de levar todos os livros dos companheiros, até aparecer outro carro com um numero escolhido.

Gostei do pormenor da casca de laranja nas caricas com que jogávamos naquelas pistas feitas de giz. Não valia era, “fazer remansso”(acompanhar exageradamente a carica ou o carro “DikyToys”), e quando o carro saía fora da pista, lá tinhamos que regressar à meta, e grandes discussões, se está ou não a pisar o risco.

E as “Trotinetes” e os carros de rolamentos!!. Será que se encontram fotos dessas preciosidades que então se faziam. Andávamos nas oficinas a pedir aos donos e por vezes a “roubar” os rolamentos, os peq. para a frente e os grandões para as traseiras. Depois era só “estilar” pelas ruas do Bairro de S. Paulo, rezzzzuuuum, rezzzuuuum.

E jogar aos “Pikles”!! Amôcha no risco e… Galapa das altas montanhas… Mata cobras sem dó nem piedade… Salto Serra da Estrela… Verrugas…

E a moda dos papagaios, também era sazonal, feitos com cana de bambu.

E andar com um aro das pipas e a respectiva “Gancheta”!!, enfim!! tantas as brincadeiras, que só nos dão saudades ao lembrar estes velhos tempos da nossa infância em Angola .

Um abraço grande para ti do amigo
Luis (Periquito)

renato gomes pereira disse...

morei na Senado da Cãmara no entroncamento com a Av.dos Combatentes, no 5º andar do último prédio antes do musseque Marçal...ali assisti ao Mpla neto trucidar a sede do Mpla facção chipenda...etc,etc
Conhecio o percuros que dizes..segui-o muitas vezes para ir e vir do e para o paulo dias de novais , próximo da joão crisóstomo e da escola industrial e dos maristas...

Zé Kahango disse...

Saudações de um blogueiro amigo de Angola!

Anónimo disse...

Olá Mário, gostaria muito e falar consigo, com alguma urgência, sobre um projecto que estou a produzir que envolve Angola. Se me puder enviar o seu contacto, agradecia.

Melhores cumprimentos
Márcia Rodrigues
marciar@valentim.pt

Meco disse...

Pópilas, oh Mário que me reenviaste para o início dos anos 50, a jogar com as caricas, a carregar as pastas por causa das matrículas dos carros,a tentar fazer "rimanço" com a bilha e enfiar a do outro na pia !
Fui morar para o futuro Miramar, quando no meio da Alameda, ainda haviam as pequenas casas de antigas famílias : Saraiva, Nascimento, Leitão de Carvalho, Chagas,Lima, Pederneira e outros.
O "dentista ?", o barbeiro debaixo da mulembeira, a carrinha do Chefe Poeira que nos fazia correr,...
Ai ué ! Obrigado e um abração,
Américo Brandão (Meco)

Zincaralho disse...

Meus amigos.A escola que estão e identificar desde que foi fundada em 1952 sempre teve o nome de Escola Preparatória General Geraldes António Victor em frente da Macambira e com uma oficia de carras ao lado.Tb ia e vinha a pé de S.Paulo até á escola.O sino de tocar para as aulas era uma tira de aço das molas do camiões.não tinha janelas nas salas mas sim tijolos abertos.A sala de trb manuais era ao fundo do lado esq de quem entrava na rampa da escola.O terraço era parte tapado.

argumentonio disse...

Salve!
O terraço tapado em parte era o ginásio! E as aulas de ginástica apuravam para o desfile e sarau no 10 de Junho, no Estádio dos Coqueiros!
Mas a brincadeira mais fantástica da Preparatória General Geraldos António Victor era atravessar a vala do rio seco, em suspensão e a poder de pulsos, pelas manilhas das condutas de água - ou seriam cabos eléctricos?
À entrada, a seguir ao portão, além de futeboladas - que o director proibia e chegava a sancionar com chapada, em alternativa a participação... - também se jogava “ao burro”, numa das equipas, um ficava encostado à parede, era o base, os outros 5 ou 6 agarravam-se pela cintura e faziam de sela, para os da outra equipa saltarem, quanto mais à frente melhor, para caberem todos, não valia segurar-se com as mãos e perdia a equipa em que alguém se desequilibrasse ou sem espaço para saltar, horas nisto! ����