10/11/10

S.M.A.E.



Cinema dos S.M.A.E., Rua Artur de Paiva – Luanda. Um cinema que marcou muito da minha infância. Parece que ainda estou a vê-lo. Entrada de portão de ferro. Ao fundo, do lado esquerdo, a bilheteira, entrada de tabiques de madeira. Cadeiras dispostas em declive inicial mas depois todas ao mesmo nível. O ecrã com palco onde actuavam os artistas convidados, um pequeno bar.

Cinema dos S.M.A.E., quantos filmes ali vi. Era certo e sabido que aos fins-de-semana era "obrigatório" ir até lá.

Quantas farras foram lá dançadas, quantos fins de ano ali se passaram. Ali ouvi o fado pelo cantor Vasco Rafael, ali ouvi cantar o meu artista preferido do meu tempo de garoto… Joselito. Veio apresentar o filme “Louca Juventude” (Loca Juventud-1965) e aos pedidos de cantar velhos êxitos dele, “Campanera”, “Malaguena Salerosa” e tantos outros, lá cantou mas a voz já não era daquele “pequeno rouxinol” que tanto me encantou e foi pena ele ter cedido aos pedidos. O meu “Pequeno Coronel” “morreu” ali.


Dia de praia. Calor abrasador. Ao fim da tarde fui com a minha namorada (na altura, hoje minha mulher) até à SMAE ver mais um filme. Comecei a ficar febril. O corpo tremia, tinha apanhado uma insolação. A namorada perguntava se tinha alguma coisa e eu para não dar parte de fraco dizia que não mas não parava de tremer. O filme decorria e mentalizei-me que não tinha nada. Com o poder da mente aguentei até ao fim e levei a namorada a casa. Depois estive uma semana de cama…

Cinema dos S.M.A.E., ali bem perto do Largo Maria da Fonte. Fez parte da minha vida, fez parte da nossa família lá longe, onde o sol castiga mais.