20/12/17

EDAL - Estofos de Angola

5ª Avenida da Zona Industrial - Cazenga - Luanda

Sempre gostei de desenhar. Não tinha, nem tenho, muito jeito para o desenho imaginativo, excepto quando fui desenhador na Empresa Edal – Estofos de Angola, onde tinha como função a criação de diversos tipos de mobiliário, uns a pedido do cliente, outros para nova gama de produtos a lançar no mercado pela Empresa. Saí-me sempre bem dessa função e tenho muito orgulho pelo que fiz nessa empresa que me ficou no coração.

Andava na Escola Industrial de Luanda, como trabalhador/estudante (ensino noturno), trabalhando de dia nas oficinas da União Comercial de Luanda, quando soube de uma vaga como desenhador na EDAL. Concorri e lá fiquei.

O meu estirador de desenho era ainda de régua T tipo escola, só tendo sido alterada para um estirador moderno, um ano depois.

A EDAL era uma filial da MOLAFLEX, fundada pelo avô do atual Presidente da Câmara do Porto, Rui Moreira.

A EDAL foi inaugurada já sobre a direção do pai dele, Rui Höfle de Araújo Moreira.

Foi um trabalho muito criativo, tendo um dos pontos mais altos, a decoração de uma ala do Aeroporto de Luanda. Quando regressei a Luanda em 89 passei por lá e ainda lá estava o que tinha idealizado no meu estirador de desenho. :)

Depois da tropa continuei como desenhador na Empresa. A situação complicou-se com a guerra civil em Luanda. Alguns trabalhadores quando se dirigiam para a Empresa foram roubados e presos por um dos "movimentos" que gladiava pelo controle de Luanda.

Pedi um jeep e juntamente com o motorista fui ao quartel desse "movimento" no Cazenga. Os soldados falavam francês e sorte minha ter tido francês na Industrial. Pedi que um oficial viesse falar comigo. Assim foi. Esse falava português e ouvida a situação, disse-lhe que gostaria de levar os trabalhadores pois sem eles a Empresa não podia funcionar. Acedeu ao meu pedido, "insultou" quem tinha preso os trabalhadores que, depois de um grande abraço, entraram no jeep mas sem antes referirem que queriam o que lhes tinha sido roubado, disse-lhes que o bem mais precioso que tinham era a vida e ala para a EDAL.

Mais tarde devido à violência se ter generalizado e o Cazenga ter sido um dos bairros mais "castigados", mudamos provisoriamente as instalações para a Marginal de Luanda.

Em Setembro de 1975 comprei bilhete de avião de ida e volta, e quando lá voltei, 14 anos depois, ainda laborava e os meus olhos ficaram mar.

Nestas fotos estão alguns que comigo trabalharam. Na p&b os que estão assinalados com seta, trabalhavam na produção, os da foto a cores trabalhavam comigo na sala de desenho.