As conversas são como as cerejas, já diz o ditado popular. Ao ler as estórias do meu mano Leaoverde (é verde, nem toda gente é perfeita), desfiando recordações que são mútuas, e pesquisando para um trabalho que tem como base dar a conhecer a música de Angola eis que me deparo com um “site” onde estão reunidas muitas das músicas que, quando kandengue (criança) e adolescente, ouvia amiudamente na rádio.
A rádio era, para quem lá estava, a única companhia pois não havia televisão. Era mau?... Nem pensar!... os miúdos dessa época ocupavam o tempo não sentados em frente à TV ou a jogar “Games Boys”, mas a fazer os seus próprios brinquedos. A rua era o seu mundo a brincadeira a sua estrada.
Hoje estou ouvindo músicas de cantores que fizeram história no meu tempo. O título da música que estão a ouvir, «Monangambe», cantada pelo Ruy Mingas, faz-me recordar uma frase que, quando garotos, dizíamos ao pessoal contratado que ia em pé, atrás, nas carrinhas para o local de trabalho:
- Monangambééé... – dizíamos nós.
- Eu vou nas “carinha” e tu vais a pé – retorquiam eles
… E era verdade, enquanto eles iam na carrinha nós íamos a pé,… em frente para um futuro, ceifado pelos canos das espingardas.
"Monangamba"
À barriga gorda do patrão de outrora outros “patrões” de agora, enchem a sua, à custa de um povo sofredor.
Aiuê Angolê
A rádio era, para quem lá estava, a única companhia pois não havia televisão. Era mau?... Nem pensar!... os miúdos dessa época ocupavam o tempo não sentados em frente à TV ou a jogar “Games Boys”, mas a fazer os seus próprios brinquedos. A rua era o seu mundo a brincadeira a sua estrada.
Hoje estou ouvindo músicas de cantores que fizeram história no meu tempo. O título da música que estão a ouvir, «Monangambe», cantada pelo Ruy Mingas, faz-me recordar uma frase que, quando garotos, dizíamos ao pessoal contratado que ia em pé, atrás, nas carrinhas para o local de trabalho:
- Monangambééé... – dizíamos nós.
- Eu vou nas “carinha” e tu vais a pé – retorquiam eles
… E era verdade, enquanto eles iam na carrinha nós íamos a pé,… em frente para um futuro, ceifado pelos canos das espingardas.
"Monangamba"
Naquela roça grande não tem chuva é o suor do meu rosto que rega as plantações; Naquela roça grande tem café maduro e aquele vermelho-cereja são gotas do meu sangue feitas seiva. O café vai ser torrado pisado, torturado, vai ficar negro, negro da cor do contratado. Negro da cor do contratado! Perguntem as aves que cantam, aos regatos de alegre serpentear e ao vento forte do sertão: Quem se levanta cedo? quem vai a tonga? Quem traz pela estrada longa a tipoia ou o cacho de dendém? Quem capina e em paga recebe desdem fuba podre, peixe podre, panos ruins, cinquenta angolares "porrada se refilares"? Quem? Quem faz o milho crescer e os laranjais florescer - Quem? Quem dá dinheiro para o patrão comprar maquinas, carros, senhoras e cabeças de pretos para os motores? Quem faz o branco prosperar, ter barriga grande - ter dinheiro? - Quem? E as aves que cantam, os regatos de alegre serpentear e o vento forte do sertão responderão: - "Monangambééé..." Ah! Deixem-me ao menos subir às palmeiras Deixem-me beber maruvo, maruvo e esquecer diluído nas minhas bebedeiras - "Monangambéé...'"António Jacinto (Poeta angolano, 1924-1991) de Poemas, 1961
À barriga gorda do patrão de outrora outros “patrões” de agora, enchem a sua, à custa de um povo sofredor.
Aiuê Angolê
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